quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O ônibus da vida

A vida que corre contra o relógio não é a mesma que corre contra a tragédia. Definitivamente. O documentário Ônibus 174 choca. As cenas são fortes e reais.

Para os desavisados: o filme narra um famoso episódio da crônica policial carioca. O sequestro do ônibus que transitava pela linha 174 do Rio de Janeiro. O fato ocorreu no dia 12 de junho de 2000. O sequestrador, um sobrevivente da Chacina da Candelária, ficou por mais de quatro horas com 10 reféns. Sandro Barbosa do Nascimento portava uma arma.

A priori a idéia era cometer um assalto. Mas, ao constatar que algo deu errado, Sandro decide fazer as vitimas, todas mulheres, reféns.

De forma um tanto quanto dramática, o documentário dirigido por José Padilha, mescla cenas reais com depoimentos de sociólogos, antropólogos, assistentes sociais, policiais e amigos de Sandro.

A música de fundo é sempre tensa. Faz com que o espectador se concentre no filme e entre naquele mundo.

O grande clímax se dá quando o sequestrador, depois de horas de negociação, sai do ônibus com uma de suas vítimas, Geisa Firmo Gonçalves. Depois de alguns segundos um policial tenta atirar em Sandro, mas acerta a refém. Logo após a cena, o sobrevivente da Candelária é quase pego e linxado pela população. No final, os policiais o levam até uma viatura e ele morre asfixiado.

O grande mérito do filme está em não condenar, em momento algum, Sandro. O que Padilha tenta mostrar é como o sequestrador é consequência de um processo social estruralmente defasado. Todo o transtorno psicológico de Sandro tem um motivo: sua própria história de vida. Todo o momento histórico vivido por ele não passa de tragédia sobre tragédia. Viu sua mãe morrer com uma facada, virou menino de rua e começou a furtar e roubar pelas ruas do Rio, assistiu muitos de seus amigos morrerem de modo cruel e covarde na Chacina da Candelária.
Desse modo, Sandro não responde pela culpa total de seu crime.

Réu confesso, nesse e em muitos casos, é toda a sociedade que insiste em pisar e ignorar os tantos Sandros que tentam nos olhar diarimente nos olhos e recebem a brisa como resposta. Um dia, a brisa vira furacão!