terça-feira, 29 de maio de 2007

A Internet analisando e sendo analisada

A CPI do Mensalão ainda não foi muito bem explicada. Na Internet diversos sites queriam dar “o furo”, ou seja, dar aquela notícia que iria dar o ultimato ao caso e, consequentemente, trazer mais page views ao site. Essa preocupação apenas com a audiência do site pode gerar erros, como aponta Ramón Salaverría, pelo fato da aceleração impedir uma boa apuração.

O escândalo teve como pivô as denúncias do deputado Roberto Jéferson, do PTB. Segundo a Folha Online: “Instalada no dia 20 de julho, a chamada CPI do Mensalão quase não saiu do papel. Cabo-de-guerra entre a oposição e o governo, foi o resultado desse conflito político que definiu seu alvo de investigações: tanto as denúncias de pagamento de mesada por parte do governo a deputados da base aliada (o "mensalão") quanto o suposto esquema montado em 1997 ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, para a compra de votos para garantir a aprovação da emenda constitucional da reeleição”.

Fica tangente como a Folha Online imita os padrões do impresso Folha de SP. Segundo Salaverría existe uma competição entre os meios digitais e os meios já consolidados. Nesse caso, por ser um braço de um dos maiores jornais do país, ela não foge muito do lugar comum.

Já a Enciclopédia Wikipédia, em que todos podem postar o que sabem do assunto, o tema é explicado de maneira que qualquer pessoa no mundo entenda. É bastante analítico, mostra quem é quem, as origens do nome, além de usar todos os recursos que a Internet proporciona como vídeo, áudio, fotos, interação de internautas, entre outros.

Uma coisa que Salaverría analisa e que acontece nesse caso é a forte escassez de fontes primárias e de observações diretas, ou seja, tudo o que os portais noticiam geralmente chegam dos velhos meios como agências de notícias, rádio e mesmo impressos. Isso é uma coisa que aponta o professor Caio Túlio Costa: “a Internet ainda não se identificou como Internet”.

No Mensalão, os portais contribuíram para novas informações que surgiam no meio da noite, quando os jornais já estavam fechados e não podiam entrar mais informações. Um exemplo: muitas das discussões da CPI aconteciam até de madrugada e, assim que o relator fazia suas observações aquela notícia já estava na Web, enquanto os jornais demorariam mais de 18 horas para publicar a mesma coisa, o rádio teria apenas um momento, mas a Internet, por sua vez, estava lá.

Esses aspectos demonstram o incrível paradoxo da Internet: a velocidade que ao mesmo tempo auxilia o meio, pode muitas vezes destruí-lo, sem isso ser explicado ao internauta, os portais simplesmente tiram a notícia do ar e colocam outra no lugar, com informações revistas e que se chocam. A Internet, muitas vezes, não passa por editor algum. Posso fazer um blog e colocar o que quero lá, a questão está em quão crível é aquilo que estou noticiando. É preciso um filtro, algo que divida o que tem credibilidade do que não tem. Dessa maneira, a Internet será mais que uma simples ferramenta, será o melhor meio para se informar.